Cronologia por urânio-tório
A datação por U-Th baseia-se na análise das razões de atividade isotópica do isótopo pai (urânio) e filho (tório). A razão é usada para aproximar a desintegração do isótopo pai da subsequente produção do isótopo filho ao longo do tempo. Isso se completa com a espectrometria de massas, que mede os produtos de decaimento tanto do pai (234U) quanto do filho (230Th) em uma amostra. Quando o urânio decai, ele passa por uma série de passos de decaimento (que começa em 238U) até eventualmente atingir um isótopo estável (terminado em 206Pb – veja abaixo).
A datação por U-Th de uma amostra de carbonato é possível com as seguintes condições:
- Ter sido formada dentro da faixa datável da sistemática de U-Th
(até 500 ka); - Conter concentrações suficientes dos
isótopos menores 234U e 230Th para a análise de
diluição de alta precisão; - Ter incorporado quantidades negligenciáveis ou conhecidas de 230Th inicial
(em excesso) no momento de deposição; e - Ter permanecido fechada a isótopos de U e Th desde a
deposição primária.
A perda de urânio e 230Th herdado em ambientações de sistemas abertos pode resultar em conclusões errôneas. Amostras com concentrações iniciais relativamente baixas de U/Ca e urânio tendem a assimilar urânio após a deposição e através de processos diagenéticos – o que produz idades aberrantes.
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Datação por U-Th
O método U-Th é empregado para datar materiais carbonáticos de até 500 mil anos. Amostras modernas não produzem datas por U-Th confiáveis devido a baixas concentrações de 230Th e limitações do método. Os tipos mais comuns de amostras incluem arte rupestre, espeleotemas e escorrimentos, corais e conchas.
Pinturas rupestres
A análise por urânio-tório pode proporcionar informações sobre a data aproximada de pinturas rupestres com a datação das finas camadas de calcita formadas por cima da arte. Dessa forma, a análise pode determinar uma idade mínima, também conhecida como terminus ante quem. Além disso, pode-se estabelecer uma idade máxima (terminus post quem) quando a camada de calcita de apoio por baixo da pintura pode ser acessada (Pons-Branchu et al. 2014). Os resultados também podem ser verificados com datações cruzadas de U-Th com C14, além da análise de múltiplas camadas ao longo da superfície da pintura, devido à natureza de sistema aberto de crostas carbonáticas (Sauvet et al. 2015).
Depósitos de cavernas: espeleotemas e escorrimentos
A análise de isótopos estáveis em espeleotemas pode oferecer informações sobre as mudanças ambientais ocorridas durante o crescimento do espeleotema. As cronologias por trás desses registros paleoclimáticos dependem de datações precisas pelos métodos de U-Th ou C14, que estabelecem uma relação entre a distância (crescimento) e a idade. As estalagmites (espeleotemas que crescem para cima) são mais recomendadas que as estalactites (espeleotemas que crescem para baixo) por causa do plano de crescimento com uma estrutura interna mais definida (Spötl & Boch, 2019). Apesar dos dois métodos de datação, U-Th e C14, serem usados para datar espeleotemas, o efeito reservatório do carbono e as impurezas químicas do espeleotema podem provocar incertezas de idade significantes (de milhares de anos) em séries datadas por C14, comparadas àquelas datadas por U-Th (Goslar et al. 2000).
Corais
Os corais podem ser datados com a análise por U-Th por até 500 mil anos antes do presente. Esse tipo de amostra comprovadamente ganha e perde urânio e tório, o que pode gerar desvios de idade. Quando o ganho de U é pareado com a perda de Th, a amostra tende a mostrar uma idade mais recente; quando a perda de U é pareada com o ganho de Th, a amostra tende a produzir uma idade mais antiga (Andersen et al. 2009). Apesar disso, pode-se aplicar correções sistemáticas com uma abordagem de triagem (e.g. Thompson et al., 2003). A reconstrução de mudanças ambientais através do tempo requer uma cronologia sólida. A datação por U-Th de corais oferece idades confiáveis além dos limites do C14. Outras análises podem ser realizadas para auxiliar reconstruções paleoclimáticas, inclusive: fases molhadas/secas (Yehudai et al. 2017), mortalidade/recuperação de sistemas de recifes de corais (Clark et al. 2017), temperatura da água marinha (DeCarlo et al. 2016) e pH (Stewart et al. 2016; Pauly et al. 2015).
Conchas
Há décadas, a datação por U-Th é usada extensivamente em amostras de conchas. O método depende da incorporação de urânio durante a formação da amostra e de uma incorporação limitada de tório de fontes externas (sistema fechado), fazendo com que todo o tório presente na estrutura seja produto do decaimento de U-Th. Nem todos os ambientes depositários podem satisfazer esse pré-requisito; nestes casos, pode-se aplicar a “datação isocrônica”, com a datação de múltiplas conchas do mesmo horizonte temporal com variados níveis de incorporação de Th detrítico (Bischoff & Fitzpatrick, 1991) para obter um nível inicial de U-Th para a datação (e.g. Placzek et al. 2006). Apesar da natureza de sistema aberto de sistemas de conchas ser um desafio para a datação, a análise por U-Th oferece a possibilidade de datar conchas que estejam além da capacidade temporal da datação por C14 (ca. 40 mil anos calendáricos antes do presente).
Referências
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Clark, T.R., Roff, G., Zhao, J.X., Feng, Y.X., Done, T.J., McCook, L.J. and Pandolfi, J.M., (2017). U-Th dating reveals regional-scale decline of branching Acropora corals on the Great Barrier Reef over the past century. Proceedings of the National Academy of Sciences, 114(39), pp.10350-10355. DOI: 10.1073/pnas.1705351114
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Coral Image: https://www.pexels.com/photo/corals-920161/